Instituto Libertário Cristão
Dr. Norman Horn
Em 2021, na Conferência Internacional dos Estudantes pela Liberdade, em Washington, D.C., Elise Amyx, do Instituto pela Fé, Trabalho e Economia (TIFWE), organizou um painel sobre libertarianismo e cristianismo. Incrivelmente esse evento teve cobertura até mesmo do Christian Post. O Acton Institute também escreveu sobre o evento. Tive o prazer de estar presente à conferência e de participar da discussão.
Os debatedores apresentaram excelentes motivos que explicam por que o libertarianismo e o cristianismo são compatíveis.
1. O cristianismo celebra a ação voluntária e a geração de valor. Citando o Christian Post:
Jacqueline Otto Isaacs, blogueira do Values & Capitalism, explicou que a visão de mundo cristã também apoia o libertarianismo. “A mensagem do Evangelho, a boa nova, é a de que a salvação dos nossos pecados nos é oferecida por Cristo — essa salvação é voluntária e individual, e essa é a mensagem fundamental do cristianismo”, disse Isaacs.
2. O governo não resolve o problema da pobreza. Os debatedores explicaram que, mesmo ignorando o fato de que governos devem roubar recursos a fim de parecerem “caridosos”, o livre mercado ainda é a melhor forma de resolver o problema da pobreza.
3. O papel bíblico do governo é bastante limitado. Eles citaram 1 Samuel 7 como exemplo do que acontece quando o governo foge ao controle. Além disso, disse o Christian Post:
[Jason] Hughey então usou como argumento o evangelho de Marcos, no qual Cristo descreve o que é servir aos outros. “Acho muito interessante o fato de que o modelo de servidão que Cristo usa para a igreja vai na direção oposta à forma como as autoridades políticas governam e controlam os outros”, disse o palestrante.
4. O assistencialismo prejudica a caridade cristã. O Acton Institute disse:
Os debatedores argumentaram que o modelo cristão de caridade é algo pessoal e, quando o governo se intromete, essa relação pessoal entre as pessoas se rompe. A redistribuição de bens por parte do governo também enfatiza a sensação de que a pessoa tem direito a tudo isso, ideia para a qual o cristianismo não dá tanta importância.
5. A riqueza não é inerentemente um pecado. Leah Hughey disse que há vários indivíduos ricos admiráveis na Bíblia, admiráveis não por causa de sua riqueza, e sim por causa do seu caráter. Nem Jesus estava interessado em atacar os ricos, preferindo se ater aos problemas mais profundos que todo ser humano enfrenta.
6. O cristianismo afirma a ênfase libertária à propriedade privada. A teoria libertária dos direitos de propriedade privada talvez seja o traço mais notável do libertarianismo. Ainda que você não possa encontrar uma narrativa bíblica explícita a explicar completamente essa teoria, você pode encontrar seguidos exemplos de como a propriedade privada e a autopropriedade são fundamentais para o tipo de mundo que Deus quer. Até mesmo a objeção clássica do “possuir coisas em comum”, contida em Atos, pressupõe a propriedade privada e a contribuição voluntária dessa propriedade.
7. O Deus da Bíblia está ao lado daqueles que são oprimidos pelo governo. O povo de Israel era escravo e era chamado de “o menos privilegiado dos povos”, mas ainda assim Deus escolheu resgatá-los e transformá-los numa bênção para todos os homens. Uma das principais narrativas de todas as Escrituras é a de que há boas novas para os menos privilegiados, sobretudo para os oprimidos e subjugados por aqueles que ocupam o poder.
8. A Bíblia, do começo ao fim, retrata o Estado como um inimigo de Deus e um veículo do mal. A história da Torre de Babel é nossa origem teológica do Estado, Jesus Cristo é tentado com o poder estatal e seu destino final é retratado em Apocalipse. Em nenhum lugar na Bíblia há aprovação para o estatismo e a violência institucionalizada.
9. O cristianismo diz que todos os homens são iguais sob a lei moral. Todos são responsáveis da mesma forma e ninguém tem salvo-conduto porque usa um uniforme ou tem o privilégio de ser chamado de “Excelência” ou “Rei” ou “Presidente” antes do nome. No mais, aqueles que detém o poder são julgados com mais rigidez e Deus não aceita o “Eu fiz o mal para que eu pudesse fazer o bem” como justificativa.
10. O cristianismo reconhece que você não pode moralizar o povo por meio da institucionalização da força. Como disse Ron Paul, “a lei não pode tornar virtuosa uma pessoa má (…). Somente a Graça de Deus é capaz disso”. O estilo de vida cristão não permite que ele use a força contra os outros para que eles se adequem; o cristão deve exibir um poder ainda maior por meio da servidão que é uma demonstração do amor de Deus. Chamamos isso de submissão e acreditamos que é assim que Deus trabalha conosco.
Em conclusão, reflita sobre essas palavras de Jacques Ellul:
Mas por que liberdade? Se aceitamos que Deus é amor e que os seres humanos é que reagem a esse amor, a explicação é simples. O amor não pode ser imposto, ordenado ou tornado obrigatório. Ele é necessariamente livre. Se Deus liberta, é porque ele espera que acabemos por conhecê-Lo e amá-Lo. Ele não pode nos guiar se nos aterrorizar.
Então, um cristão pode ser libertário? Claro! O libertarianismo é, na verdade, a melhor posição política para um cristão. O libertarianismo cristão não tem a ver com votar da forma certa ou explicar todos os detalhes das políticas públicas, e sim com transformar profundamente nossa visão do poder e das instituições que o usam.
*Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Christian Institute.
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