Instituto Libertário Cristão
Dr. Norman Horn
Tito Flávio Josefo, também conhecido como Yosef Ben Matityahu, foi um historiador judeu no primeiro século D.C. Ele testemunhou a destruição de Jerusalém em 70 D.C. e registrou os acontecimentos. Seus dois maiores trabalhos são A Guerra dos Judeus (The Jewish War) e As Antiguidades dos Judeus (The Antiquities of the Jews). O primeiro conta a história da revolta dos judeus contra os romanos que ocorreu entre 66 e 70 A.C. O segundo é a história do mundo a partir de uma perspectiva judaica. Ambos são extraordinariamente importantes para o estudo da história do primeiro século e da história da nação judaica. Para o cristão moderno, Josefo ilumina o mundo do cristianismo do primeiro século.
No As Antiguidades, Josefo menciona que o primeiro governo humano foi construído por Nimrod, o poderoso caçador de Gênesis 10:8-9. Esse relato mostra-se consistente com Gênesis; nenhum outro governo organizado (a menos que você considere um “clã”) é apontado antes dele. Gênesis é, antes de tudo, um livro de origens, e, portanto, esse governo humano inicial pode sem dúvida ser tomado como arquetípico. Josefo, embora não tenha a autoridade das Escrituras, estende a história de Babel (Gênesis 11:1-9) e oferece um interessante insight no que diz respeito à origem do Estado. A citação ampliada apresentada a seguir é do Livro 1, Capítulo 4 da tradução de Whiston. A seleção é um pouco esquisita (Whiston traduziu Josefo no século 18), mas, vamos nos ater a ela um pouco, e eu oportunamente vou resumi-la.
“Relativo à Torre da Babilônia, e a Confusão das Línguas”
Quando eles se multiplicaram, Deus novamente exortou-os a estabelecerem colônias, mas eles, acreditando que a prosperidade de que desfrutavam não era fruto do favor de Deus, pelo contrário, supondo que havia sido o seu próprio poder a causa da sua condição de abundância, não o obedeceram. Não, a isso eles acrescentaram a sua desobediência à vontade divina, a suspeita de que foram mandados, portanto, a criar colônias separadas, que, ao serem quebrados em mil pedaços, pode ser mais facilmente Oprimidos [por Deus].
2. Agora era Nimrod quem os incitava a tal afronta e desprezo a Deus. Ele era o neto de Cam, filho de Noé, este um homem corajoso e com um magnífico braço forte. Ele os persuadiu a não atribuírem [seu sucesso] a Deus, como se tivesse sido pelos seus esforços o fato de serem felizes, mas a acreditarem que tinha sido a sua própria coragem que lhes garantiu essa felicidade. Ele gradualmente também transformou o governo em tirania, não vendo outra alternativa para fazer com que os homens perdessem o temor a Deus e viessem a ter uma constante dependência do seu poder. Ele também disse que se vingaria de Deus, caso Ele tivesse em mente afogar o mundo novamente; para tanto, ele construiria uma torre tão grande que as águas não conseguiriam alcançá-la! e que ele próprio se vingaria de Deus por ter destruído seus antepassados!
3. Nesse momento, a multidão estava totalmente pronta para seguir a determinação de Nimrod e para tratar como covardia uma submissão a Deus; e eles iriam construir uma torre, sem poupar qualquer esforço, nem serem negligentes seja em qual for o grau a fim de realizar o trabalho: e, pelo número da multidão de mãos empregadas na tarefa, a torre foi erguida e ficou muito alta, muito antes do que qualquer um esperaria; mas a espessura era tão impressionante, e foi tão fortemente construída, que consequentemente sua grande altura parecia, sob essa perspectiva, ser menor do que de fato era. A torre foi construída com tijolos cozidos, cimentados com argamassa; feita de betume, que pode não ser susceptível a absorver água. Quando Deus viu que eles agiam de forma tão insana, Ele não decidiu destruí-los totalmente, uma vez que eles não ficaram mais sábios com a destruição das pecadores que lhes precederam, mas causou um tumulto entre eles ao criar neles línguas distintas, e, dessa forma, devido à multiplicidade dessas línguas, eles não deveriam ser mais capazes de compreenderem-se uns aos outros. O local onde eles construíram a torre chama-se agora Babilônia, devido à confusão da língua que antes eles tão prontamente entendiam, pois é isso o que os judeus querem dizer com a palavra Babel: confusão. A Sibila1 também faz menção a essa torre e à confusão das línguas, no momento em ela então diz, “Quando todos os homens tinham apenas uma única língua, alguns construíram uma torre alta, como se eles por esse meio fossem ascender aos céus, mas os deuses enviaram tempestades de vento e derrubaram a torre, e deram a cada um deles uma língua específica; e por essa razão a cidade foi chamada de Babilônia”. Mas, quanto ao projeto de Sinear2, no país da Babilônia, Histieu3 o menciona ao dizer: “Dos sacerdotes que foram salvos, eles tomaram as embarcações sagradas de Júpiter Enyalius e vieram para Sinear da Babilônia”.
Em resumo, a história aqui começa pouco tempo depois do dilúvio. As pessoas haviam se reunido para benefício mútuo e comércio. Deus, então, ordena-os a começarem novamente a missão de se dispersarem pela face da terra – dando início a colônias. Mas, ao invés disso, as pessoas mais uma vez se rebelaram contra Deus, acreditando mesmo que esse mandamento de se espalharem tinha sido dado por Deus para que Ele pudesse “oprimi-los” de novo. Nimrod, o primeiro rei humano, foi o maior responsável por incitar essa rebelião. Ele conspirou para construir uma torre que, de acordo com Gênesis, alcançaria os céus e simbolizaria a sua capacidade de serem eles mesmos deuses. Josefo sugere que eles acreditavam que poderiam até mesmo atacar o céu e vingarem-se de Deus por Ele ter causado o grande dilúvio. Deus, para puni-los, sem destruí-los, enviou-lhes uma confusão, fazendo com que passassem a falar línguas diferentes. Eles se dispersaram (parcialmente cumprindo o plano de Deus de espalhar a humanidade), e, nas planícies de Sinear, o reino da Babilônia foi erguido. (Lembremo-nos de que a Babilônia é constantemente retratada na Bíblia como uma abominação).
Tanto quanto é possível depender de Josefo como fonte, seu relato salienta quatro pontos:
O episódio nos faz lembrar das palavras de Paulo no livro de Romanos:
Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. 22 Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (Romanos 1:21-22, NVI)
O Estado, que é a institucionalização da violência na Terra, começou como uma usurpação da autoridade de Deus; o verdadeiro reino de Deus não é deste mundo (João 18:36). Não pensemos que o governo pode ser “consertado” e que o reino de Deus pode ser promovido simplesmente colocando as pessoas certas no governo, pois nós sabemos que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Tem sido assim desde o começo.
*Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Christian Institute.
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