C A R R E G A N D O . . .

Instituto Libertário Cristão

Tom Woods & Norman Horn

O artigo a seguir transcreve o episódio 662 do podcast The Tom Woods Show, de 17 de maio de 2016, com Norman Horn.

WOODS: Creio que já são muitas centenas de episódios desde que falei contigo pela última vez, logo, temos muito o que conversar. Falamos em geral sobre o LibertarianChristians.com, os tipos de assuntos que vocês debatem por lá. Falamos sobre o fenômeno do libertarianismo cristão. Retomemos essa conversa porque até as pessoas que ouviram essa conversa não se lembram de uma só palavra do que dissemos. Pode ser que tenha sido extremamente memorável e as pessoas as tenham memorizado, mas talvez não. Então, gostaria de levar isso para certo lugar, mas vamos começar com um debate recente que você teve, creio que foi no rádio, com alguém de – foi alguém de um seminário e era sobre o tema de libertarianismo e cristianismo?  

HORN: sim, esse foi na rede Up for Debate há pouco menos de um mês, com um senhor chamado dr. Al Mohler. Dr. Mohler é um teólogo cristão muito conhecido no Seminário Teológico Batista do Sul. É o reitor desse seminário e, provavelmente, um dos evangélicos mais influentes que existem hoje. Logo, tive umas pessoas boas trabalhando nos bastidores que, gentilmente, me ajudaram a conseguir isso e a ideia geral era colocar dr. Mohler e eu no programa juntos, e realmente ter um debate a respeito da compatibilidade do cristianismo e do libertarianismo. A posição do dr. Mohler é do tipo conservadora cristã bem estrita, não só conservadora em Teologia, mas também muito conservadora em política, e é da opinião, é claro, de que libertarianismo e cristianismo não são compatíveis. E a minha tarefa foi tentar corrigir algumas das questões que ele tinha em mente. Na minha avaliação, acho que correu tudo muito bem, mas houve alguns pontos significativos que realmente não chegamos a debater. Ainda sinto que existe um monte de confusões nas pessoas que são cristãs conservadoras a respeito do que, na verdade, é o libertarianismo. E isso é o que realmente estamos tentando fazer agora com o Libertarian Christian Institute [Instituto Libertário Cristão], tentar explicar essa ideia para os cristãos em todos os lugares, de que o cristianismo e o libertarianismo realmente funcionam muito bem juntos e é esse o caminho mais consistente que os cristãos têm para desfrutar de uma filosofia política. 

WOODS: É claro que há um monte de libertários também que pensam que cristianismo e libertarianismo não funcionam bem juntos, mas falemos disso daqui a pouco. Mas tenho lidado com um monte de pessoas que se encaixam na descrição que você acabou de mencionar, e é verdade que conheço todos os pontos de vista deles e eles têm essa caricatura maluca de mim. Ou eu – outro dia mesmo, outro dia estava lendo – e um dia desses eu trarei Rod Dreher1 no meu programa. Você acha que seria uma conversa produtiva?  

HORN: É provável. 

WOODS: Sim, quer dizer, acho que seria interessante, mesmo que não concordemos. Ele parece ser um cara agradável. Bem, de qualquer maneira, ele concedeu uma entrevista ao fundador do Free State Project que é – não sei se é ateu, mas não é cristão. E eles tiveram uma conversa muito produtiva, muito frutífera. Eu realmente gostei – agora, é claro, a seção de comentários, infelizmente, no The American Conservative, era muitíssimo decepcionante. As pessoas ficavam só jogando pedras nos libertários, o que é uma vergonha, porque Rod Dreher estava tentando encontrar um denominador comum e todos os comentários eram, sabe, de quem fala mal pelas costas, joga pedras e se esconde… esse tipo de coisa. Entretanto, eles tiveram um debate muito frutífero, mas um dos comentários disse: “Meu Deus, esses libertários”, é como se o libertarianismo fosse totalmente incompatível com a ideia de pecado original. Daí pensei, espere aí, o quê? Por quê? Por quê? E é claro que a pessoa certamente diria que “pressupõe que todos são bons”. Mas o libertarianismo não pressupõe isso. Diz apenas: não agrida as outras pessoas. Não diz nada a respeito de pessoas serem boas ou más. E, ao contrário, se você pensasse que as pessoas têm tendência ao mal, não desejaria fragmentar o poder político e dispersá-lo do modo mais amplo e descentralizado que fosse possível? 

HORN: É claro! E, com relação a esse ponto, é bem conhecido o que certa vez disse James Madison: “Se os homens fossem anjos, não precisariam de um governo”. Entretanto, em muitos aspectos, a resposta libertária a isso é: porque os homens não são anjos é que não devemos permitir que tenham poder sobre os outros dessa maneira. E, uma vez que percebamos isso, a crítica cristã contra o próprio Estado pode, realmente, ganhar foco como algo muito consistente, com a ideia de que os homens são pecadores. Qualquer que seja a posição que você tome com relação ao pecado original e, ainda que você a matize, pois existem algumas diferenças de opinião a esse respeito, você não escapará do fato de que os homens são pecadores e que os homens fazem coisas terríveis uns aos outros, e que conceder às pessoas esse tipo de poder por intermédio do Estado é, na verdade, muita loucura. 

WOODS: Sabe, teve um programa, mais uma vez, há muito tempo – semana passada fiz um programa sobre programas antigos. Percorri mais de uns 650 programas e… 

HORN: Isso é “refletir sobre a reflexão”, Tom. 

WOODS: É, realmente foi. E pensei, bem, talvez deva esperar pelo programa 1000 e fazer isso… mas pensei, “ah, nada disso”; o programa é meu e quero fazer isso agora. E, um dos programas sobre o qual falei foi o do professor George Kalantzis, que escreveu um livro sobre as posturas dos primeiros cristãos com relação à guerra. Falemos de contracultura. Os primeiros cristãos tinham uma postura extremamente antibélica e antimilitar, não só pelos motivos que os livro-textos padrão nos dizem: bem, porque achavam que o exército romano era pagão ou o que fosse. Sim, em parte era isso, mas a crítica era muito mais profunda que isso. 

HORN: Sim, tinham uma aversão profunda à própria violência. 

WOODS: Sim. 

HORN: E isso, em parte, por conta da perseguição que sofreram. Acreditavam simplesmente que era errado fazer essas coisas e, caramba, quando nos voltamos para as palavras de Jesus, será que isso é realmente uma grande surpresa? 

WOODS: Verdade.  

HORN: É impressionante que os cristãos modernos realmente não levem isso em conta! 

WOODS: Sabe, e tem umas pessoas que me dizem: “ah, tal e tal pessoa achava que você executava hereges” e coisas do tipo. Ok, sei lidar com isso. Encontramos todos os tipos de pessoas, todos os tipos de pontos de vista e todos os tipos de opiniões, mas é interessante. Exatamente o que você disse, a visão de Santo Agostinho era, bem, fico feliz que ninguém tenha me matado, pois nunca teria tido a oportunidade de me converter. Esse é, portanto, meu ponto de vista, de que, é claro, realmente não faço isso. Bem, de qualquer maneira, menciono Kalantzis porque isso surpreende muitas pessoas, porque creio – quer dizer, vamos… não posso deixar de mencionar isso, vamos falar dos libertários por um minuto. Não quero lidar com a questão dos libertários que dizem: “Olha, dei uma olhada na Bíblia e vi um monte de coisas não libertárias e um monte de máximas não libertárias. Como vocês querem ser libertários sendo cristãos, então vocês têm esse compromisso estranho e constrangedor, vivem num universo paralelo em que as partes da Bíblia e a tradição cristã simplesmente não existem”. Como você responde a essa acusação? 

HORN: Bem, antes de mais nada, precisamos voltar à raiz do problema, e isso, você sabe, é: qual é a visão Bíblica do Estado. Essa é nossa controvérsia no Libertarian Christian Institute, pois ao passar os olhos por toda a Bíblia, do início ao fim, veremos que o Estado é, em última análise, o inimigo de Deus. Isso remonta até mesmo ao início do Livro do Gênesis, e mesmo o que poderíamos chamar de início da história estatal e da Torre de Babel. Além disso, temos uma aversão pessoal à ideia de agressão e isso vem, mais uma vez, dos princípios das Escrituras que dizem, veja, você não precisa – esteja você se voltando para os Dez Mandamentos ou para a palavra de Jesus, – dessa força inicial contra outras pessoas para obter o que deseja. Claramente, isso não está dentro do alcance do que é a autoridade cristã. Não é sobre isso que estamos falando. E, então, se tomarmos essas ideias como fundamentais: a ideia de que o Estado é o inimigo de Deus e que nossa responsabilidade como cristãos é não iniciar a força contra os outros, então é muito fácil, na verdade, partir daí e dizer: “Veja, o libertarianismo, realmente, é a expressão mais consistente do pensamento político cristão”. Então, podemos começar daí e seguir na compreensão de como isso se aplica e como procedemos por intermédio dos argumentos libertários típicos nessa altura. Essa é apenas uma visão especial do libertarianismo, visto que recorremos às Escrituras para ver como Deus olha para o governo e o papel da violência na sociedade. Reconhecemos que isso também é consistente com a lei natural, e, uma vez que as pessoas comecem a perceber isso, creio que se torna muito mais fácil dizer algo como, ah, bem, está muito nítido, então, que os libertários e os cristãos têm muitos denominadores comuns, mesmo que não acreditemos em determinadas coisas fundamentalmente da mesma maneira, nessa altura, ainda temos muitos modos de viver em paz uns com os outros e não nos esganarmos sempre que tivermos um desentendimento. 

WOODS: Tudo bem, desculpe, já passamos por todos os pontos nessa entrevista, mas, como te disse de antemão, vamos falar do modo que falaríamos pessoalmente, e, pessoalmente, eu passo por todos os pontos. 

HORN: (risos) Sim. 

WOODS: Não sou organizado; não tenho um script. Falo o que vem à cabeça. Voltemos ao debate. O motivo de termos falado essa coisa toda sobre Rod Dreher foi ter alguém lá que disse que a ideia de pecado original, obviamente, não era compatível com o libertarianismo. Foi esse o tipo de objeção que você enfrentou? Que tipos de objeções Al Mohler te apresentou?  

HORN: Então, Al realmente tinha a impressão de que existem dois problemas grandes no libertarianismo com relação aos cristãos. Um deles é existir um randianismo essencial. E essa, na verdade, é uma compreensão ruim do libertarianismo, a de que tudo deriva de Ayn Rand. E, mesmo que isso seja verdade, em parte, com relação a alguns libertários, por certo não é o modo como cheguei ao libertarianismo, e, certamente, não foi como muitos de outros amigos libertários cristãos também chegaram a ele, além de muitos outros amigos libertários que não são cristãos. Portanto, isso é algo contra o qual devemos lutar, tirar a ideia de que Rand, de alguma maneira, é a gênese desse tipo de pensamento. E, por isso, até tentei explicar como isso retrocede à história. Há um grande veio libertário no pensamento norte-americano e no pensamento teológico cristão também, se quisermos ir à fundo. O segundo grande mal-entendido, a partir desse ponto de vista, creio, é ele achar que o libertarianismo está tentando se tornar uma visão de mundo abrangente para todos. Não é bem o caso. Tentei explicar que o libertarianismo é, basicamente, uma filosofia política. Não é uma filosofia que abrange todas as coisas. Não pretende responder as questões de ética, todas as questões morais, todas as questões acerca de qual é ou não o propósito do homem na vida. É usada para explicar qual é o papel apropriado da força na sociedade civilizada. Então, o fato de ele simplesmente não querer ver isso de outro ponto de vista foi bastante decepcionante, mas fiquei satisfeito que muitos dos que ligaram pareceram, realmente, entender. De fato, houve um grupo de pessoas que disse: “Não sabia o que era o libertarianismo antes disso, mas acho que agora sou um libertário cristão”. E teve um cara de Baltimore que disse isso, o que achei muito elogioso. E até mesmo a âncora do programa estava começando a ver algumas diferenças entre como eu pensava versus o modo como o dr. Mohler pensava e, ainda que ela, provavelmente, não tenha, de todo, se convencido, creio que ela está no caminho para entender as coisas em um nível um pouco mais profundo do que, até mesmo, as coisas que o dr. Mohler estava falando. 

WOODS: Parece que ele estava pensando no libertarianismo do modo como as pessoas pensam o liberalismo de esquerda, que é uma abordagem neutra da vida pública, de que nós não nos posicionaremos sobre bens substanciais; só queremos gerar espaços para as pessoas viverem os próprios destinos da maneira que desejarem. Entretanto, na prática – se ao menos os liberais esquerdistas pensassem assim! Eles não te deixam em paz: vão te criticar; de que você acredita nisso, de que você acredita naquilo; irão te excluir da sociedade se você acreditar nessa e naquela coisa, irão te forçar a interagir com pessoas que você não quer interagir. Foi-se o tempo em que alegavam esse ponto de vista neutro, passaram a ter uma agenda muito clara e totalitária. Ao passo que o libertarianismo é, ou digamos, apenas é o que alega ser. Realmente diz para não cometer violência contra outrem, mas não te diz o que fazer para isso. E imaginem se tudo o que vocês puderem dizer a respeito de suas vidas é que vocês não foram violentos com outras pessoas, essa seria uma vida bem patética. Logo, o libertarianismo não está pregando como viver. Ensina os rudimentos absolutos básicos da vida civilizada, mas, daí o que fazer além disso, isso é contigo. E alguém como Rod Dreher e, possivelmente, Al Mohler, diria: “mas isso é muito vago, pois não diz sobre o que é o bem viver. É muito atomista”. No entanto, o problema é que não vejo pessoas investidas de poder político que sejam capazes de me dizer, com segurança, o que é o bem viver. Confiarei nas pessoas da minha comunidade, nas pessoas da minha igreja, da minha família, seja o que for. É para esses lugares que me volto para descobrir o que é o bem viver. Não desejo, pelo amor de Deus, saber do que isso se trata por aquilo que um cara da capital pensa a respeito. 

HORN: Bem, além disso, temos um argumento forte aqui. Veja, se o seu ponto de vista particular está te levando para uma direção contrária ao que é fundamentalmente verdadeiro no universo, então, talvez, você deva voltar para algo que seja um pouco mais simples e um pouco mais básico do que tentar explicar a coisa com muito mais filosofia que o necessário. Às vezes, o problema dos conservadores cristãos é que têm uma visão de moralidade muito nuançada, e – e eu me consideraria teológica e moralmente muito conservador como pessoa – isso não significa que por ter essa visão distinta de todos esses aspectos da moralidade que, então, possa abandonar o princípio muito básico do que é apropriado para mim e impor essa moral a outras pessoas. Não estou autorizado a fazer isso. Tenho certa responsabilidade em tentar persuadir as pessoas, levando-as ao modo de vida cristão. Isso é o que chamamos de evangelizar, certo? Queremos fazer isso, mas isso não quer dizer que possa pressionar as pessoas, de modo a dizer: “você vai fazer isso senão vou te jogar na prisão, ou vou te queimar na fogueira ou, ainda, vou te transpassar com minha espada”. Essa é a resposta do mundo. Esse é o modo de agir de uma sociedade não civilizada. Não é modo cristão. 

WOODS: Você acha que o libertarianismo se torna, se não mais coerente, digamos, mais completo, defensável ou abrangente – você acha que isso faz mais sentido ou é mais forte em um contexto cristão? O que o cristianismo traz para o libertarianismo? Creio que é isso que estou perguntando. 

HORN: Em muitos aspectos, acho que sim, porque, é claro, muito embora a lei natural seja a base do que chamaríamos “libertarianismo básico”, há coisas interessantes de antropologia e, até mesmo, a respeito do modo como vemos a história, às vezes, que acho que o cristianismo tem a acrescentar. Entretanto, também acho que exatamente porque acredito que o cristianismo é a verdade, então, penso que é porque é a verdade, que existe um monte de coisas na Bíblia que podem acrescentar, que há algo a ser somado, que há algo que podemos aprender com a Bíblia. E acho que existe uma maneira de olhar para isso, em especial, o modo como Jesus viveu, e perceber que o modo de viver dele era pacífico, o modo de trabalhar com as pessoas era pela persuasão, era para mudar a vida das pessoas – isso é muito coerente e abrange toda a evolução humana, o que diríamos, num certo sentido, que vai além do libertarianismo neste ponto, mas lhe é complementar. Gosto de pensar que os cristãos podem contribuir muito para o movimento libertário e isso nos ajudaria a explicá-lo para mais pessoas. 

WOODS: Existe alguma coisa que você queira dizer para não libertários, mas que, talvez, sejam cristãos conservadores, algo que os faça pensar? Espero que seja – quero que seja mais do que não impor a sua moral aos outros. Quer dizer, apenas, sim, eu também não faço isso, mas detesto. Isso soa fraco, não gosto desse modo de pensar porque eles voltam e dizem: “não posso viver numa sociedade em que tenho essas crenças e todo o resto tem crenças totalmente diferentes. Como podemos interagir com os demais, se não somos obrigados a cumprir as mesmas regras morais, se não temos uma base filosófica comum? Vocês propõem que todos vivamos por aí como átomos isolados, com nossos pontos de vista privados a respeito do que é o bem, de que não se pode verdadeiramente agir na sociedade”. Creio que pensam assim. 

HORN: Sim, essa é o modo de pensar deles. É o que, às vezes, acham que os libertários lhes propõem e, quanto a esse ponto, acredito que “moralidade imposta” não é, necessariamente, o melhor fraseado que podemos empregar, porque todos temos um conjunto de regras morais e coisas similares. Todos têm uma ética e, mesmo com o que conversamos sobre libertariansmo, esperamos que pessoas não iniciem agressões contra outras. 

WOODS: E se, rapidamente, puder interferir, os liberais de esquerda não hesitam em impor a moralidade deles. 

HORN: Verdade.  

WOODS: Fazem isso todo santo dia. Pessoas estão sendo processadas porque impõem a moralidade deles, logo, várias vezes essas pessoas não hesitam em fazer isso também. Ok, desculpe, prossiga. 

HORN: Sim, então, não é como se não tivéssemos nenhuma visão de moralidade que esperamos que as pessoas nos sigam. Isso não é verdade, mas existe um determinado subconjunto de regras morais que cremos que não deva ser imposto aos outros e que esse não é um meio de persuasão apropriado, não por intermédio da força. E todo mundo também acredita nisso. Alguns só têm uma visão diferente do que seja esse subconjunto de regras morais. E a razão de nosso subconjunto moral ser um pouco diferente dos outros é porque nossa visão política mais básica, mais fundamental de interação na sociedade é não iniciar ato de força contra as pessoas. Logo, isso é realmente a primeira parte; mas, se existe algo que queira dizer em particular para os cristãos conservadores que ajudaria a acalmar parte da confusão que costumam fazer é – citarei brevemente as Escrituras aqui – não olhem somente para Romanos 13 como a principal visão de como deve agir o Estado. Muitas das vezes – e não consigo nem dizer quantas vezes estive em conversas com alguém a respeito de cristianismo e política e acontecer de dizerem: “Bem, Romanos 13, seu argumento é inválido”. Essa é basicamente a resposta que às vezes você ouve. O que é realmente incrível é que acreditam que somente por isso, por evocar e expelir “Romanos 13”, isso basta como cala-boca automático. “Bem, é isso”. E, sim, é uma passagem complicada das Escrituras e traz alguns desafios no modo como devemos interpretá-la. No entanto, acredito que se começarmos com Romanos 13, acabaremos chegando no lugar errado de onde gostaríamos de estar para entender como opera o Estado, e, ao invés disso, temos de dar uma olhada primeiro no restante da Bíblia para depois chegar a Romanos 13. Há muito material no site LibertarianChristian.com, que é o site do Libertarian Christian Institute, em que explicamos isso com muito mais detalhes do que tivemos tempo de fazer aqui hoje. Entretanto, eu certamente encorajaria todos os cristãos a pesquisarem sobre essa questão, a não se voltarem apenas para Romanos 13 como base de uma filosofia sobre o Estado.  

WOODS: Você vai me enviar alguns links? Porque as pessoas vão querer ler sobre Romanos 13. Você tem esse material? 

HORN: Com certeza absoluta. Sim, temos vários ensaios e artigos acadêmicos sobre Romanos 13 e exegeses dessa passagem, bem como de outras passagens, dentre elas, Mateus 4, do Livro do Gênesis, do Apocalipse. Voltamo-nos para lugares diferentes de modo a compreender melhor essa filosofia. 

WOODS: Muito bem, então, isso estará em TomWoods.com/662. Vamos interromper um minutinho para falar sobre a conferência que vem por aí. Estamos em 2016, portanto, para quem ouvir depois esse programa, saiba que perdeu, mas talvez venha a ter outra conferência no ano em que você nos escuta. 

HORN: Com certeza. Ora, o Libertarian Christian Institute está promovendo agora conferências anuais chamadas de Christians for Liberty Conference [Conferência dos Cristãos pela Liberdade]. Há dois anos, Tom, você deve se lembrar, nós a anunciamos pela primeira vez no seu programa, naquela época não éramos o Libertarian Christian Institute, estávamos experimentando a ideia de nos tornarmos uma instituição sem fins lucrativos. Na verdade, um pouco depois requisitamos o status de “sem fins lucrativos”, e o obtivemos em quatro dias, sem brincadeira. Inacreditavelmente, achamos que isso foi milagre, mas agora somos o Libertarian Christian Institute. Promovemos essas conferências. A conferência Christians for Liberty este ano será no dia 6 de agosto de 2016. Será em Austin, Texas, na Universidade St. Edward. Essa é uma oportunidade verdadeiramente ecumênica, caso vocês estejam interessados nesse tipo de coisa, porque é uma universidade católica. Temos um patrocinador docente ortodoxo e um palestrante principal protestante, na verdade, que é nada menos que um dos seus bons amigos e um bom amigo meu, o dr. Robert Murphy. Estamos muito animados para dar as boas-vindas ao nosso palestrante. E vocês também poderão ouvir uma série de outros grandes palestrantes cristãos. Eu estarei lá, claro. Jason Rink é um dos meus grandes amigos e estará lá. Doug Stuart. Teremos Jacqueline Isaacs e Elise Daniel, que estarão apresentando um novo livro que estão publicando e escreverei um prefácio para ele, em breve. E teremos o dr. Mark Cherry, que é professor da Universidade St. Edward e que será nosso anfitrião, um homem maravilhoso; falará sobre ética e pensamento cristão. Será um grande dia, cheio de companheirismo, bom humor, boa comida e ótimas pessoas. Espero, ansioso, pelo evento desse ano e incentivo vocês a começar a planejar vir a Austin no dia 6 de agosto de 2016. Você pode encontrar maiores informações a respeito do evento na página: LibertarianChristians.com/CFL e inscrever-se na nossa mala direta para manter-se informado sobre a data de início das inscrições. 

WOODS: Muito bem, deixe-me perguntar uma coisa. Obviamente, com os cristãos libertários, quero dizer, não há realmente essa coisa, em termos de grupo autoidentificado, em que se pertença, de maneira autoconsciente, a uma categoria ideológica. Pode haver pessoas que se descrevem como cristãos libertários, penso em algumas, mas, definitivamente, nos últimos anos, há mais autoconsciência de que somos uma coisa; visto que isso não existia antes. Ao passo que isso acontece, o libertarianismo foi se tornando mais mainstream, mais pessoas tomaram ciência do que ele é, recebeu muito mais ataques. Bem, do mesmo modo, estou certo de que esse foi o seu caso. Quais objeções você acha que são as mais comuns? São aquelas como as do Al Mohler ou as outras? Em outras palavras, existem coisas que você sente que tem de responder a cada cinco segundos? 

HORN: (risos) Sim, com certeza. Então, já falamos de várias delas hoje. A questão de Romanos 13 é uma das grandes. Os “libertários tentam ser atomistas” é outra delas. Os “libertários falam sobre a questão de imposição de moralidade” é outra ainda. Embora creia que há umas questões políticas, – comumente sou atacado ou questionado – provavelmente, as duas mais comuns são sobre guerra e caridade. Então, primeiro, temos cristãos por aí que, infelizmente, estão muitíssimo preocupados com os militantes islâmicos e coisas do gênero e acreditam que os Estados Unidos precisam ir até lá e intervir por todo o mundo para garantir que não tenhamos outro 11 de setembro ou algo parecido. Assim, contestar isso requer uma resposta dupla. Uma é uma resposta libertária mais direta que todos os seus ouvintes, tenho certeza, conhecem muito bem; coisas como as que você conversou com Scott Horton e outros e, entendendo a história do Oriente Médio e o que conversamos com relação ao intervencionismo, o que Ron Paul tem dito por anos, é claro. A segunda resposta ao ataque é perceber que a crítica cristã à guerra e ao próprio império é realmente importante, como falamos um pouco antes. Os primeiros cristãos tinham aversão à guerra, e para nosso azar, perdemos, em muitos aspectos, essa aversão à violência na tradição de vida cristã. Acredito que seja algo que estejamos tentando reintroduzir com muita dificuldade, se me permitir, por meio do Libertarian Christian Institute, é retomarmos uma maneira mais pacífica de ver as relações exteriores de um ponto de vista cristão. Com relação à caridade, é claro, há um grande contingente de cristãos por aí, muitas vezes do tipo mais liberal, mais neoliberal, que acredita que se não existir tributação e bem-estar governamental para ajudar as pessoas a sair da pobreza, de situações de educação, saúde etc., precárias, então, as coisas irão ladeira abaixo. E esse é um argumento econômico, e mais uma vez temos uma dupla investida no modo de responder a isso. Primeiro, temos a posição libertária mais típica, em que explicamos de modo economicamente consistente por que o livre-mercado funciona e por que o sistema de saúde governamental é uma má ideia e por que a tributação é roubo, todo esse tipo de boas coisas. No entanto, como cristãos, temos de tentar introduzir no argumento que, “veja, isso não é algo de que devemos participar do modo como você pensa. É responsabilidade cristã fazer esse tipo de coisa, ajudar outras pessoas, educar, ajudar as pessoas a ter cuidados na doença e etc., mas não precisamos fazer isso pelo desencadeamento da força ou pelo roubo dos outros”. E, de fato, isso é exatamente o oposto ao que somos chamados a fazer na Bíblia e, em vez de tirar de outrem para dar a um terceiro, reconhecemos ser nossa responsabilidade produzir e dar do nosso, e fazer isso voluntariamente, para contribuir nesse tipo de empreendimento. Assim, dizer ser responsabilidade do governo não é a coisa certa que cristãos devam fazer. Então, podemos ter esses dois tipos de respostas, e esperamos que isso tenha ajudado as pessoas a, realmente, compreender como têm de entender melhor essa questão.  

WOODS: Sabe, é claro que quando você fala de política externa, isso traz à lembrança toda a coisa do Ron Paul, porque as pessoas te dizem, “adoro o Ron Paul, menos a política exterior dele”. “Concordo com ele, exceto em política externa”. Todos nós já tivemos essa conversa com alguém. 

HORN: (risos) Sim.  

WOODS: E daí, alguém lança um meme no Facebook – não sei se você se lembra disso – uns pensaram que era injusto e tinha passado dos limites, mas era a figura de Cristo e ele dizia: “concordo com ele, exceto em política externa” (risos). 

HORN: Sim, lembro perfeitamente.  

WOODS: Sim, exceto todo aquele papo de paz… fora isso (risos). 

HORN: “Sim, concordo contigo, Jesus, exceto naquele negócio de ‘dar a outra face’. Isso eu não tolero”. 

WOODS: Sim, isso mesmo. Na verdade, acho que é justo, essa daí é OK.  

HORN: Pode ser, sim, creio que sim. 

WOODS: E, sabe de uma coisa? Olha, às vezes, essas coisas realmente fazem as pessoas pararem e pensarem. 

HORN: Sim.  

WOODS: Às vezes, funcionam. Pois bem, diga-nos o que as pessoas encontrarão no site LibertarianChristians.com. 

HORN: Bem, então, o site tem um monte de material agora, tanto do ponto de vista teológico, tentando explicar a Escritura e compreender como o libertarianismo se adequa à nossa teologia cristã, e também um punhado de ideias libertárias em geral. Desse modo, você pode aprender Economia, Ética, História, guerra e intervencionismo, pode aprender todos esses tipos de coisas – políticas públicas, Ciência Política etc. – bem como entender Teologia e todas as coisas que são caras aos libertários. Então, você encontrará todo esse tipo de coisa lá. Encontrará podcasts, essas coisas. Esperamos mesmo que você venha conferir o nosso site. Estamos tentando aumentar o número de nossos programas. Agora, estamos fazendo essas conferências, esperamos que vocês deem uma conferida. E faremos ainda mais nos próximos anos, à medida que nos tornemos uma organização, esperamos servir ainda mais à comunidade libertária e à comunidade cristã nos próximos anos.  

WOODS: Bem, isso parece ótimo! Isso e muito mais estará nos links de TomWoods.com/662. Boa sorte com a conferência, Norman, e obrigado pelo tempo que passou conosco. 

HORN: Obrigado a você, Tom. É sempre muito bom estar aqui. 

Este artigo é uma transcrição do episódio 662 de The Tom Woods Show.


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