Instituto Libertário Cristão
Dr. Norman Horn
Blayne Bennett, do Students for Liberty, me pediu para escrever um artigo explicando o que significa ser um libertário cristão, e o resultado é este texto. Ele foi publicado originalmente no Blog do SFL. Leia, compartilhe e comente!
O que o deputado Ron Paul, Doug Bandow, do Cato Institute, Isaac Morehouse, do Institute for Humane Studies, Larry Reed, da FEE, Thomas Woods, do Mises Institute, David Thoreaux, do Independent Institute e Leon Tolstoi têm em comum? Todos odeiam o estatismo e todos são cristãos.
Aqui e ali, o cristianismo tem uma má reputação nos círculos libertários. Certos cristãos fundamentalistas têm um histórico de usarem o Estado para impor seus valores morais específicos sobre os outros. Os defensores do chamado “Evangelho social” querem destruir o livre mercado e fazer com que o Estado redistribua a riqueza como eles considerarem melhor. E, claro, aqueles influenciados por Ayn Rand têm uma visão muito negativa da religião como um todo.
Mas claro que não precisa ser assim. Historicamente, o cristianismo está do lado da liberdade. O liberalismo clássico se desenvolveu a partir de uma visão de mundo cristã que dá um alto valor à liberdade de escolha do ser humano. Na verdade, acho que os cristãos estão entre os maiores defensores do libertarianismo no mundo. Mas antes temos de discutir rapidamente os equívocos sobre o cristianismo que afastam alguns libertários. Depois, temos de esclarecer como exatamente o cristianismo e o libertarianismo se relacionam e explicar o que significa de fato o “libertarianismo cristão”.
O cristianismo não defende o socialismo. Alguns estudiosos acham que, em essência, Jesus ensinou redistribuição de renda e que a comunidade cristã primitiva descrita em Atos 4 era uma forma de estrutura socialista. Ora, não se pode negar que Jesus enfatizava a ajuda voluntária, não a coerção. Os primeiros cristãos não obrigavam as pessoas a praticarem a caridade e respeitavam a propriedade privada. Aquele velho ditado que você já deve ter ouvido, “o dinheiro é a raiz de todo o mal”, é uma citação errada da Bíblia. Na verdade, lê-se: “O amor pelo dinheiro é a raiz de todo o mal”, e a passagem nos ensina que a ambição geralmente leva ao pecado.
O cristianismo não exalta a violência e a guerra. É realmente uma pena que as igrejas norte-americanas contemporâneas tenham trocado a mensagem pacífica do Evangelho cristão pelo objetivo estatal de “disseminar a democracia”. Jesus veio para “trazer a Paz à Terra e a boa-vontade aos homens” e, por extensão, o objetivo cristão deve ser o mesmo.
O cristianismo não defende um Estado teocrático. Embora Deus tenha mesmo dado aos israelistas do Velho Testamento uma série de leis civis para o bem-estar da comunidade, não há absolutamente palavra alguma no Novo Testamento que justifique a criação, pelos cristãos, de um novo tipo de Estado governado pela lei bíblica. Não cabe ao cristão se impor aos outros. Deus governa dentro dos corações do seu povo, não por meio de um governante humano. Como disseram vários dos revolucionários norte-americanos, “não temos outro rei que não Jesus”.
O cristianismo não é uma teoria que legitima o Estado. Os governos têm um papel de destaque na Bíblia, mas não se pode, de jeito nenhum, associar a presença deles à virtude no mundo. Mesmo Romanos 13 e a famosa passagem do “A César o que é de César”, que muitos usam como a clássica prova de que as Escrituras atestam a necessidade de governo, são mais bem compreendidas como argumentos de prudência a respeito de como lidar com a presença do governo, e não como uma justificativa para a existência do governo.
O cristianismo apoia a teoria libertária dos direitos de propriedade. A autopropriedade a respeito de outros seres humanos está na Bíblia. Contrariamente à forma como muitos veem o Velho Testamento, a escravidão era um crime capital. Apesar de todos os sistemas econômicos de organização terem sistemas de propriedade, o cristianismo concorda com os libertários no princípio da usucapião, no qual cabe ao primeiro usuário determinar como um recurso deve ser usado. Aqueles que se apropriam de propriedades alheias são considerados agressores e foras-da-lei.
O cristianismo ama o livre mercado e a interação pacífica. A Bíblia é cheia de exemplos que mostram claramente como a interação voluntária, isto é, o livre mercado, é muito melhor do que a coerção. Além de mostrar o caminho da Salvação, a mensagem de Deus é a de que o amor pelo seu vizinho resultará em paz e prosperidade. Claro que este princípio não quer dizer que coisas ruins não nos acontecerão, mas ele transcende o sofrimento momentâneo e podemos nos esforçar para alcançá-lo.
O cristianismo afirma que ninguém deve receber privilégios em razão do cargo. Deus não demonstra favoritismo e, portanto, estamos aqui para fazer o mesmo. Todos os homens são iguais sob a lei de Deus. Ninguém tem mais permissão moral para fazer o que os outros não podem fazer só porque ele usa um uniforme ou porque 51% da população assim o diz.
O cristianismo diz que o Estado é uma revolta contra o caráter e o objetivo verdadeiros dos homens. Os homens não foram feitos para viverem sob a ameaça constante de agressão por parte da autoridade arbitrária e involuntária de outros homens. Ao contrário, fomos feitos para vivermos numa relação de amor pacífica com Deus e nossos semelhantes. Mas quando não se aceita a lei de Deus, a tirania dos homens, por meio do estatismo, provavelmente surgirá. O Estado invariavelmente se posiciona contra Deus e lança os homens contra os homens.
Essas explicações são necessariamente breves e, claro, há vários outros assuntos teológicos e referências bíblicas que poderiam ser discutidos. Ainda assim, vemos claramente aqui que o cristianismo e o libertarianismo têm muito em comum. Cada vez mais cristãos ao redor do mundo estão percebendo que sua forma anterior de entender a política não traz benefício aos outros nem respeita a Deus. Os libertários cristãos têm a solução: pare de conferir um status moral e teológico ao governo e retire seu consentimento. O Estado não é o Reino de Deus nem nunca será.
*Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Christian Institute.
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