Instituto Libertário Cristão
Alex Bernardo
Comecei a levar minha fé a sério quando tinha 15 anos e, de uma forma estereotipada luterana, imediatamente comecei a ler minha Bíblia. Tornou-se óbvio para mim depois de uma leitura do Novo Testamento que os cristãos eram obrigados a cuidar dos pobres e deveriam ser extremamente caridosos. Era igualmente evidente como o dinheiro e a riqueza podem facilmente corromper até mesmo as pessoas mais virtuosas e que eu precisava viver modesta e generosamente. Como estudante de escola pública, naturalmente presumi que os cristãos eram chamados para serem socialistas. Afinal, o único conhecimento econômico que eu tinha eram chavões sobre como o socialismo “ajuda os pobres” e o capitalismo “é ganância”. Os cristãos não são gananciosos, certo?
À medida que envelheci, vi como os impostos podem prejudicar as pessoas à margem e que o bem-estar às vezes permitia a degeneração humana. Eu diria que só precisávamos de um pouco de socialismo. Por que eu deveria me importar se o governo pega parte do meu dinheiro e dá aos pobres? Isso torna meu trabalho de caridade muito mais fácil! Eu ainda não tinha sido confrontado com a economia básica. Esse momento veio no outono de 2016, quando, após 8 anos como ministro estudantil bivocacional, decidi buscar um emprego de verdade e fazer pós-graduação para me tornar professor (então “trabalho de verdade” pode ser um pouco exagerado…). Fui forçado, aos 27 anos, a abrir um livro de economia pela primeira vez. Desde as páginas iniciais de A Survey of Economics de Irvin Tucker, fiquei viciado. A descoberta mais chocante foi que eu estava errado sobre “capitalismo” e “socialismo”.
De acordo com Tucker, o capitalismo tinha apenas duas características: a propriedade privada dos fatores de produção e a tomada de decisões econômicas descentralizadas. O socialismo era exatamente o oposto: controle governamental (ou “público”) dos fatores de produção e tomada de decisão econômica centralizada. Nada sobre ganância, caridade, moralidade ou qualquer outra coisa que eu tenha associado a esses dois termos. Depois de alguns dias de reflexão, percebi que sempre fui capitalista e logo comecei a me chamar de libertário. Para um livro de economia que não mencionou a escola austríaca, exceto por uma referência passageira a Hayek (mas várias páginas sobre Keynes e Marx), isso me convenceu de que o livre mercado funciona.
A maioria dos cristãos não aprendeu essa lição inestimável. Os evangélicos de direita usam o termo “capitalismo” para denotar qualquer política econômica promulgada pelos republicanos, não importa o quão anti-mercado a política possa ser. Os cristãos progressistas, no entanto, são muito mais persistentes. Mesmo uma rolagem superficial pelo Twitter cristão progressista revelará que todos eles, para a pessoa, acreditam que a Bíblia ensina o “socialismo” e que a caridade cristã pode e deve ser mediada pelo estado. Além da óbvia confusão de termos (aparentemente ninguém mais leu o livro de Tucker), uma leitura do Novo Testamento justifica a proposição de que os cristãos devem ser socialistas? Em uma palavra, não.
Vamos levar a sério a definição de Tucker de “capitalismo” e “socialismo”. Afinal, ela corresponde acidentalmente à concepção austríaca desses termos, que Ludwig von Mises demonstra brilhantemente nas passagens iniciais do capítulo 15 de Ação Humana. Socialismo significa propriedade governamental dos fatores de produção e tomada de decisão econômica centralizada. Um breve exame de algumas passagens-chave do Novo Testamento coloca essa falácia econômica de lado.
Uma passagem famosa no Novo Testamento ocorre em Marcos 10:17-27. Aqui Jesus é confrontado por um homem rico (muitas vezes referido como o “jovem rico”, uma combinação de termos das versões de Mateus e Lucas desta história), que pergunta a Jesus o que ele pode fazer para herdar a vida eterna (Mc 10:17). Jesus o lembra dos 10 mandamentos, omitindo sutilmente o mandamento sobre a idolatria, ao qual o homem responde que guardou todos eles (10:18-20). Jesus então diz ao homem “uma coisa te falta, vá e venda tudo o que você possui e dê aos pobres, e você terá um tesouro no céu (10:21)”. O homem fica triste com a notícia, se vira e vai embora. Jesus então instrui seus discípulos sobre “quão difícil será para os ricos entrar no reino de Deus” (10:24), como “é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (10:25), e que a salvação só é possível com Deus (10:27). A mensagem é clara: a riqueza é uma tentação que pode facilmente levar à idolatria, e muitas pessoas ricas escolherão a riqueza em vez de servir a Deus. Um aviso assustador.
Jesus, no entanto, claramente não está defendendo o socialismo. Ele não diz nada sobre a tomada de decisões econômicas centralizadas ou o controle governamental da produção. Ele deixa o jovem rico sair sem confiscar um centavo. Jesus não chama seu procurador romano local, insistindo que ele aumente os impostos, aprove uma lei ou regule a economia. Ele usa a ganância idólatra do homem para ensinar uma lição e alertar seus discípulos sobre o perigo da riqueza. (Eu dou um relato interpretativo completo dessa passagem no episódio 105 do meu programa, The Protestant Libertarian Podcast.)
A próxima passagem que os cristãos progressistas costumam usar para justificar o “socialismo” é Atos 2:43-47, que descreve os primeiros judeus crentes em Jesus que viviam em Jerusalém, unidos em torno dos ensinamentos dos apóstolos. Lucas, o autor de Atos, descreve essa comunidade da seguinte forma: “todos os que tinham crido estavam juntos e tinham tudo em comum; e começaram a vender suas propriedades e posses e estavam compartilhando com todos eles, conforme a necessidade de qualquer um (Atos 2:44-45)”. Xeque-mate, porcos capitalistas. A resposta a essa afirmação deve ser óbvia: a igreja está fazendo isso voluntariamente! Não há apelos para que o Sinédrio (os líderes judeus locais) ou os romanos confisquem involuntariamente a riqueza daqueles que não acreditam em Jesus, aprovem novas leis ou apliquem novos regulamentos. Na verdade, não há nenhuma teoria macroeconômica em ação nesta passagem. É um exemplo de uma igreja, em uma cidade, se unindo para servir uns aos outros, e não tem nada a ver com os fatores de produção ou planejamento econômico centralizado. Deus honra isso (“e todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”, 2:47), mas não é normativo para todas as comunidades cristãs ou uma justificativa para o planejamento econômico centralizado. Certamente não é socialismo no sentido técnico do termo.
O paradigma que emerge dessas duas passagens é consistente em todo o Novo Testamento: a riqueza pode ser perigosa, a caridade e a generosidade são obrigações para os crentes e não há apelos ao planejamento central socialista e ao controle do governo. Em 1 Timóteo 6, que também abordo em detalhes em meu programa, Paulo faz a famosa declaração de que o dinheiro é a raiz de “todos os tipos” de males (não “todos”, 1 Timóteo 6:10), e então encoraja aqueles que são ricos (que presumivelmente não desistiram de todas as suas posses) a serem generosos com todos (1 Timóteo 6:17-19), demonstrando a responsabilidade da caridade para com aqueles que têm fé.
Paulo sustenta a caridade radical dos macedônios empobrecidos como um modelo de generosidade cristã (2 Coríntios 8:1-6) e, em seguida, passa as próximas passagens explicando por que os coríntios precisam seguir seu exemplo e dar não sob compulsão (que é exatamente como os programas de bem-estar socialistas são financiados), mas alegremente. Ele lembra a Timóteo de cuidar das viúvas que não têm família em sua congregação, mas adverte severamente que os cristãos que não sustentam seus próprios familiares são piores do que os incrédulos (1 Timóteo 5:8)! Que tal aqueles cheques da Previdência Social que cuidam de seus avós, socialistas cristãos?
Há muitos, muitos outros exemplos desse chamado à caridade radical no Novo Testamento (Tiago 2 e Mateus 6, por exemplo), várias advertências terríveis sobre as armadilhas da riqueza (Paulo chama duas vezes a ganância de “idolatria”, veja Efésios 5:5 e Colossenses 3:5) e absolutamente zero sugestões de que o estado precisa planejar centralmente a economia, possuir os fatores de produção ou receber o monopólio da caridade. De fato, quando os cristãos defendem o socialismo, eles estão entregando o chamado da igreja de generosidade radical para políticos ricos e poderosos que usam o dinheiro dos impostos para permitir a má conduta corporativa e bombardear bebês marrons inocentes em países que não representam uma ameaça estratégica aos Estados Unidos. O socialismo cristão não é apenas uma rejeição dos ensinamentos do Novo Testamento, é um pacto com o diabo. Ou, mais precisamente, Babilônia. Deixe o leitor entender. Quando lidamos com os significados reais dos termos “capitalismo” e “socialismo”, descobriremos que o primeiro não é incompatível com o Novo Testamento, enquanto o último não é encontrado em lugar nenhum. Qualquer um que queira encontrar um caminho através do labirinto do analfabetismo econômico e da imprecisão bíblica precisa dar uma olhada no trabalho de Mises e uma leitura atenta do Novo Testamento. Dê generosamente, mas não para o governo.
Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Christian Institute.
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