Instituto Libertário Cristão
Tom Woods & Larry Beane
O artigo a seguir transcreve um episódio do podcast The Tom Woods Show, de 25 de outubro de 2016, com Larry Beane.
O Rev. Larry Beane é pastor da Igreja Luterana de Salem em Gretna, Louisiana. Ele ensina na Wittenberg Academy, uma escola secundária luterana online.
WOODS: Bem, não acredito que levou esse tempo todo para eu descobrir que deveria ter você no programa. Tudo o que vejo das tuas coisas, simplesmente amo, seja no Facebook ou a carta que você escreveu para a Loyola University em Nova Orleans a respeito do Walter Block. Foi assolador! Escrevi uma bela carta a favor de Walter, mas, então, li a sua e pensei: “Bem, fico feliz em ganhar medalha de prata se o pastor Larry Beane está nessa”. Foi tão, tão bonita, executada com maestria. Você os arrasou! E o bacana foi que como protestante, o engraçado é para o tipo de pessoa que dirige a Loyola University – quero dizer, veja, posso falar muito deles, mas conheço os tipos. Eles não suportam – realmente não suportam a Igreja Católica tradicional.
BEANE: Sim.
WOODS: — portanto, se importam muito mais com a opinião de um protestante. Portanto, fico muito feliz que você tenha surgido. Tipo, eles nem se importariam comigo, sou totalmente dispensável. Muito bem, tenho um punhado de coisas que quero conversar contigo porque você é um cara inteligente, amo ler as tuas coisas, você é um jogador de PC Slayer e, ainda assim, é um pastor luterano. Quando visitei o campus da Universidade de Harvard em um evento do Mises no começo desse mês, estava andando pela Universidade Luterana, que conhecíamos como UNILU, que provavelmente deveria ser como os Looney Tunes por conta dessas pessoas. E, realmente, tirei uma foto da nova placa deles que indica, mais ou menos, que todos são bem-vindos à Universidade Luterana, salvo Martinho Lutero. Na verdade, quase estava enviando essa foto com a legenda “Do Jeito que Lutero Gostaria”. Você faz parte do Sínodo de Missouri1?
BEANE: Sim, sou um luterano do Sínodo de Missouri e, é claro, luteranismo não é como no catolicismo, temos vários tipos de divisões. E, no luteranismo, na verdade, elas são denominações separadas, mas a minha denominação tende ao conservadorismo e é muito tradicional, uma espécie de ortodoxia católica na nossa tradição luterana.
WOODS: Muito bem, é isso com isso que quero começar, pois isso não é algo exclusivo do luteranismo, mas parece existir um problema muito grande aí. Provavelmente, você não tem de lidar com isso no sínodo de Missouri, mas o maior dos grupos luteranos é a Igreja Evangélica Luterana da América e, neles, não entendo o que consideram ser a ligação histórica ao homem Martinho Lutero e ao pensamento de Martinho Lutero, do mesmo modo que não vejo como alguém pode ser um esquerdista na Igreja Católica. Se olharmos para os dois mil anos, o que quer que diga dos dois mil anos de catolicismo, isso não tem relação alguma com esquerdismo. É isso o que você sente com relação à Igreja Evangélica Luterana da América?
BEANE: Sim, é uma situação análoga. Martinho Lutero era uma figura bem conservadora, e a Reforma fragmentou-se em diferentes facções, mas a Reforma Luterana foi muitíssimo conservadora. Mesmo a nossa liturgia é praticamente idêntica à liturgia romana da época, mas a Igreja Evangélica Luterana da América é uma criação recente. É um amálgama de várias denominações diferentes. Foi formada, creio, no início da década de 1980 e muito rapidamente tornou-se, cada vez mais, uma expressão de ideias políticas de esquerda e contra a teologia tradicional, como a Igreja a afirmou por dois mil anos
WOODS: Isso nos leva, então, a outra questão que é: você se descreveria como libertário?
BEANE: Certamente.
WOODS: Muito bem, agora entendo que, obviamente, interessa são os princípios teológicos de Lutero e não suas opiniões privadas sobre várias coisas, mas, parece que essas duas coisas se mesclam, não só no caso de Lutero, mas no caso de muitos teólogos. E não gostaria, de maneira alguma, de descrever Lutero como um libertário. O que você acha que Lutero deixou escapar?
BEANE: Bem, antes de mais nada, o nome de Lutero foi tomado como uma espécie de insulto ou como uma tentativa de prejudicar nosso catolicismo, ou cristianismo, e isso foi uma coisa lamentável, mas vingou, claro. Não reconhecemos todos os escritos de Martinho Lutero. Reconhecemos que alguns dos documentos são confessionais e constituem o que os luteranos professam. É chamado Livro de Concórdia, e foi publicado em 1580. Em muitas ocasiões, Lutero foi um teólogo brilhante e um doutor da Igreja. Às vezes, disse coisas realmente bobas. Outras vezes, muitos de seus escritos registrados ao redor de uma mesa de jantar, e ele fazia apenas uma espécie de edição. Portanto, Lutero, muitas vezes, é muito mal-interpretado ou deturpado por pessoas de todas as facções. Assim, reconhecemos alguns dos escritos de Lutero, mas, por certo, em todos, mas, basicamente, estamos na continuidade da tradição católica, remontando aos apóstolos; a Reforma, a vemos, na verdade, como um conflito infeliz dentro da Igreja, mas de nosso ponto de vista, foi algo que precisou acontecer para restaurar o entendimento do Evangelho que foi encoberto pela corrupção da Idade Média. Desse modo, Lutero tendeu a ser um homem de seu tempo. Foi muito estatista. Realmente – naquela época tínhamos uma forma de governo imperial na Alemanha, na Europa, e não fazia sentido outro modo de governar. Quero dizer, hoje não temos um imperador, ao menos não oficialmente. Temos repúblicas ao redor do mundo. Temos várias instituições democráticas que não existiam na Idade Média. Portanto, o mundo mudou no modo como nos governamos e daqui a 500 anos poderá ser bem diferente também. Entretanto, os princípios do Cristianismo e da Igreja, ainda os professamos, sem importar qual governo ou regime tenhamos no futuro.
WOODS: E o que vocês acham de Romanos 13? Estou curioso para saber a interpretação luterana disso e a sua interpretação – Ok, três coisas: interpretação de Lutero de Romanos 13, tua interpretação de Romanos 13 e, em terceiro lugar, a acusação, talvez no caso dos libertários cristãos, de que a ideologia está determinando a teologia, sabe? O cavalo está puxando a carroça? Na verdade, queremos ser libertários e os cristãos não nos deixam ser, então, fazemos essas interpretações tendenciosas que nos deixam dormir à noite.
BEANE: Sim, essa é uma grande pergunta e é um texto que muitas vezes é usado como uma espécie de, bem, de nocaute. Você não pode ser um libertário por causa de Romanos 13. Ok, vamos prosseguir. No entanto, creio que realmente precisamos nos voltar para o texto e também como foi compreendido ao longo do tempo, creio que muito disso tem relação com o tipo de governo em que você vive. Digo, se você vive numa monarquia, se você vive numa democracia, se você vive na Rússia comunista, aquilo que você “deve” aos governantes pode ser diferente caso você tenha um rei cristão benevolente ou uma república secular. Há um princípio que é afirmado em Romanos 13. E aqui está, a meu ver, o maior mal-entendido ou deturpação de Romanos 13. O versículo 1 diz – emprego a tradução padrão para o inglês, que creio ser ilustrativa2: “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus”. Bem, “autoridades constituídas”. Qual a primeira coisa que vem à cabeça quando escutamos essas palavras? Soa como governo. E na cabeça de vocês, ao menos para mim, não me detenho com “governo”; ponho um “o” na frente. Obedeço “ao governo”, porque não existe apenas “governo”; existe “o governo”, porque há apenas um. É um monopólio. Mas, quando lemos o texto no grego original, ele diz “autoridade”, e diz, “as autoridades superiores”. Portanto, há uma autoridade no mundo que nos afasta do caos. A autoridade não é uma coisa má, e os libertários não são contra a autoridade. Por exemplo, nas suas casas, se vocês têm uma família, se têm filhos, vocês exercem autoridade sobre os filhos. Vocês lhes dizem quando ir para cama e tudo isso e, nesse contexto, esse é um uso divino da autoridade. Entretanto, notem, não é uma autoridade estatal; é uma autoridade privada. Ou, em nossa sociedade – digo, nenhum libertário quer viver em uma sociedade em que as pessoas podem tirar as coisas de você e te matar. Acreditamos na autoridade. Acreditamos na justiça. Acreditamos em, como diz Romanos 13, que temos autoridades que recompensam o bom comportamento e punem o mau. Portanto, os libertários não são contra a lei e a ordem, mas quando você restringe isso ao Estado e diz que essa autoridade deve ser uma expressão do uso monopolista do poder sem controle que pode ser abusivo e que não te é permitido criticá-lo porque, como diz o texto, a autoridade é o ministro de Deus, creio que isso é uma deturpação de Romanos 13. Deixem-me dar a vocês uma série de exemplos de autoridade privada que acho que estão sob essa rubrica, pois interpreto Romanos 13 de um modo muito mais consistente do que um estatista, acho, pois não vejo isso como “o governo”; vejo como se toda a autoridade que Deus emprega para manter a ordem na sociedade. Como se, por exemplo, você tivesse feito um cruzeiro, certo? Você teve essa grande experiência que teria sido maravilhoso estar no “Contra Cruise”3. Estive num navio de cruzeiro há uns anos e achei realmente interessante que o capitão e os oficiais usassem insígnias militares, mas eles não eram governo. Trabalhavam para uma empresa privada. No entanto, pelas leis marítimas, esses civis têm autoridade, digo, o capitão pode te colocar na prisão e você não pode chamar seu advogado ou brandir o passaporte. Quando estamos no mar, ele é a autoridade, e diria que Romanos 13 obriga aos cristãos a se submeterem à autoridade dele e não espancar as pessoas ou roubar coisas a bordo. Portanto, essa é uma autoridade privada; não é necessariamente uma autoridade estatal. A outra que quero indicar é a da maior instituição mundial da história, a Igreja Católica. E o que a Igreja Católica faz? Divide todo o mundo em distritos geográficos chamados de dioceses e cada uma delas é supervisionada por um bispo. Existe um sistema de Direito Canônico. Existem regras; punição para a transgressão. Ao mesmo tempo, é voluntária. Não é um Estado. Quer dizer, o Vaticano é um Estado, mas essa é uma história diferente. No entanto, os católicos vivem numa espécie de governo voluntário. Eu vivo no território geográfico do arcebispo de Nova Orleans, mas não estou sob a autoridade dele, estou sob uma autoridade eclesiástica diferente, e todos coexistimos. Assim, esse é um tipo de modelo de governança libertário, e até mesmo anarquista. É voluntário. Podemos mudar de um governo para o outro e, ainda assim, há a autoridade que Romanos 13 nos faz obedecer para a boa ordem de nosso mundo.
WOODS: Muito bem, tenho algumas observações críticas a isso – não observações críticas, mas uns acréscimos.
BEANE: Certo.
WOODS: Acho que diria, para constar, de modo que todos entendam que, obviamente, eu e você temos uma abordagem diferente da reforma e de seus méritos, assim, que isso fique claro e as pessoas não me escrevam: “Por que você não retrucou?”. Porque não foi para isso que te convidei aqui. Em segundo lugar, como você bem sabe, há outros textos que podem ser usados, por assim dizer, como textos de comprovação a respeito do Estado, do governo pela espada e da tributação, de modo que, se você os ler, digamos, sem engajamento ideológico anterior algum, você verá por que as pessoas pensam que o Estado está sendo endossado nesses textos. Mais uma vez, não parece que você tem de fazer várias reviravoltas para que sejam lidos de outra maneira?
BEANE: Sabe, é engraçado, porque com os impostos, as pessoas vêm com o “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E muitos não entendem o contexto do que estava acontecendo ali. Para os judeus praticantes estarem no templo, não deviam nem mesmo ter moedas com a imagem de César cunhadas. Era considerado blasfemo. Assim, tinham de trocar a moeda fora antes de trazê-la para dentro do templo e, realmente, Jesus quando diz, traga-me uma moeda e de quem é a imagem que está nema, ele, realmente, devolve-lhes a acusação. Quando diz, daí a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus, bem, existe alguma coisa que pertença a César que também não seja de Deus? Portanto, Jesus deixou aí uma espécie de ambiguidade. Entretanto, as pessoas dirão, bem, Jesus diz que os impostos são morais e o que você, ou ele, está endossando é o Estado romano. Aqui está uma passagem de – se eu puder ler aqui uns versículos de Mateus 17 que me fazem rir toda vez que os leio. Creio que é como Jesus via os impostos, e está no início do versículo 24 :
Logo que chegaram a Cafarnaum, aqueles que cobravam o imposto da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: “Teu mestre não paga a didracma?”. “Paga, sim” – respondeu Pedro. Mas quando chegaram à casa, Jesus preveniu-o, dizendo: “Que te parece, Simão? Os reis da terra, de quem recebem os tributos ou os impostos? De seus filhos ou dos estrangeiros?” Pedro respondeu: “Dos estrangeiros”. Jesus replicou: “Os filhos, então, estão isentos. Mas não convém escandalizá-los. Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares, abrirás a boca e encontrarás um estater. Toma-o e dá-o por mim e por ti”. (Mt 17, 24-27)
E observemos que o objetivo de Jesus aqui não é ofendê-los. Ele não diz, ah, bem, devemos pagar isso ou devemos isso. Na verdade, diz, de quem recebem os filhos do Reino? Pertencemos ao reino do Cristo. Os governantes da terra tributam com justiça? Realmente tributam os próprios filhos? Tibutam os próprios eleitores políticos? E Jesus diz apenas para pagar e não os ofender. Realmente acredito nisso, acredito em pagar tudo o que o Estado diz que devemos. Não defendo tornar-se um mártir e tentar protestar contra os impostos. Penso que a melhor maneira de se opor à tributação injusta é com o poder das ideias, em vez de ficar sentado numa prisão. Mas, não é como os estatistas explícitos gostam de fazer parecer. Digo, totalmente. Sabe, creio que há algo a ser dito, pois, se o governo oferece serviços de verdade, então, devemos pagar por esses serviços. No entanto, por outro lado, não temos escolha. O governo faz as coisas e depois nos tributa sem nos perguntar, realmente, como indivíduos, se iremos dirigir por aquela estrada ou utilizar determinado serviço estatal. Na verdade, não é uma boa maneira de fazer negócios. Quero dizer, praticamente tudo – diria, todas as funções que o governo realiza podem ser privatizadas e o argumento libertário é que isso é um modo muito mais humano e eficiente de viver juntos em sociedade e oferecer bens e serviços. Você prefere ir à Apple store ou a DMV? Os negócios privados têm de competir. Têm de inovar. Não têm a capacidade de colocar uma arma na cabeça e tirar teu dinheiro. Então, na verdade, o libertarianismo nada mais é que dizer, privatizemos as coisas que o governo anda fazendo. E não há nada contra isso nas Escrituras.
WOODS: Muito bem, também quero falar sobre politicamente correto contigo e, o faremos após agradecer o nosso patrocinador. Muito bem, vamos mudar de assunto. Primeiro, quero te perguntar, você tem permissão – não sei se foi publicado online ou não, mas tenho permissão para publicar no meu website o texto da carta que você escreveu para a Loyola University em favor de Walter Block?
BEANE: Ah, com certeza, Tom. Certeza absoluta!
WOODS: Caso vocês estejam nos ouvindo, irei colocar o link em TomWoods.com/767. Você tem de se permitir ao prazer de ler essa carta. Dei uma olhada nela novamente antes de conversarmos e pensei, bem, lerei uns parágrafos no ar, mas não pude decidir quais ler. Queria ler a carta toda e isso levaria muito tempo. Sou um crítico muito duro com os escritores. Sou um crítico muito, muito duro. Não vejo uma só sílaba que teria mudado nessa carta ou que poderia melhorar. É tão bem escrita! Você aniquilou essas pessoas ditas “mente aberta”, tolerantes, politicamente corretas, você as derrotou de um modo tão bonito que digo, a você que nos ouve, você está se privando unjustamente de um prazer tremendo! Vá a TomWoods.com/767 se você ainda não viu essa carta e a chance é você não ter visto. Agora, deixe-me dizer uma coisa – se eu quiser mudar o rumo para a correção política só porque isso é uma coisa que me deixa maluco. Deixou-me maluco na faculdade, depois, meio que esqueci isso por um tempo porque pensei que era algo que preocupava quando estávamos na faculdade e somente nos campi, mas, agora, o que na minha época eram crianças, se formaram e estão espalhando isso em cada cantinho da sociedade a ponto de as pessoas não se sentirem seguras de expressar suas opiniões sobre uma ampla gama de assuntis. Sabemos que todo mundo entre na linha quando surgem determinados assuntos e existe uma posição oficial que todo CEO, toda personalidade política, todo apresentador de jornal, todo professor de faculdade terá, e se você não a defender, será perseguido. É inacreditável. E li tanta coisa tão certeira que você escreveu sobre isso que penso que você é tão atormentado por isso quanto eu.
BEANE: Com certeza, e você mencionou o dr. Block. Tenho de dizer, sabe, nunca encontreu uma pessoa tão cavalheira, tão academicamente talentosa, de coração tão terno e tão amigável quanto Walter Block e o modo como ele foi tratado não só é vergonhoso, não só é uma violação à liberdade acadêmica, mas é francamente anti-cristão. Sabe, e digo mais, direi que foi anti-cristão. A maneira como dr. Block foi tratado foi diabólica e foi isso que me impeliu a escrever aquela carta à administração. Foi muito triste. Eis a ironia: novamente, como você disse, sou luterano e os jesuítas foram criados, basicamente, para nos queimar na fogueira. Digo, historicamente essa era a causa deles. E Walter Block é um judeu ateu nos pontos de vista econômicos, portanto, a grande ironia é que essa instituição cristã perseguiria um judeu ateu por conta de seus pontos de vista sobre economia. Os Jesuítas, ironicamente, o início da história da economia austríaca incluía os jesuítas da Escola de Salamanca. Assim, há uma grande ironia aqui e não é engraçado; é uma ironia triste, trágica, diabólica. E, espero que possamos ir além – como cultura, espero que possamos ir além dessa camisa de força de códigos de linguagem. É aterrorizante. É nitidamente orwelliano. E, um outro amigo – nunca o encontrei pessoalmente, mas o li muito e, às vezes, trocamos correspondência em privado, que é o dr. Anthony Esolen, um professor católico tradicional brilhante em Providence. E ele também tem sido bombardeado por algumas das coisas brilhantes que escreveu na revista Crisis. Digo, pessoas que não concordam conosco – Walter Block e eu discordamos em algumas questões, mas, no fim do dia, continuamos amigos. Não entendo por que, e especialmente, por que instituições cristãs, instituições jesuítas – digo, de todos, os jesuítas são acadêmicos, sabe? Por que não podem ser acadêmicos? Por que não podem ser cristãos? Por que não podem ser intelectuais? Por que usam seu poder para desencorajar a pesquisa honesta? Isso é coisa da União Soviética ou da Alemanha Nazista. Isso é coisa de campo de concentração, e, na verdade, culturalmente, precisamos lidar com isso antes que se torne um episódio na história em que ficaremos chocados de ler a respeito – sabe, que as pessoas daqui há 100 anos ficarão estarrecidas de ler sobre o que aconteceu com a Civilização Ocidental e com a cultura norte-americana.
WOODS: É engraçado que muitos dos críticos da Igreja antiga dirão: Ah, antes do Vaticano II, que instituição terrível, assustadora e estúpida nos tínhamos! Mas, agora, que abrimos as portas ao mundo moderno, como temos ar fresco e toda essa porcaria que ninguém, em sã consciência, pode acreditar.
BEANE: Certo.
WOODS: No entanto, a ironia é que havia muitíssima diversidade intelectual naquela época. Como, quando penso nos jesuítas da escola antiga, pessoas que foram ordenadas há muitos anos, quando você encontra um deles, você se depara com uma mente muito, mas muito aguçada que não tem medo de debater assunto algum, não se acovarda, mas fica feliz de ter a oportunidade de uma troca de ideias. E penso, por exemplo, conheço um cara que – já falecido – um cara chamado padre James Sadowsky, que era um Jesuíta das antigas. Extermamente inteligente, extremamente erudito. Ele discutiria e debateria com praticamente todo mundo e, assim, na época do seu falecimento, a Sociedade de Jesus tinha se tornado tão esquerdista – bem, creio que provavelmente por volta de – digamos, dez anos antes dele morrer. Ele foi uma das pessoas para quem enviei o manuscrito do livro A Igreja e o Mercado, pois pensei, esse cara é extremamente inteligente, conhece tudo que há para conhecer sobre o que estou escrevendo e, se eu cometer erros, ele me dirá. Ele, basicamente, amou o livro e fez alguns comentários menores. Amou. No entanto, não deixou que eu o mencionasse nos agradecimentos.
BEANE: Humm. Uau.
WOODS: — porque disse, veja, estou num asilo de Jesuítas, e parei de brigar. Não quero passar o resto dos meus dias brigando por isso. Então, mantive isso em segredo até a morte dele.
BEANE: Uau.
WOODS: Então, essas são as pessoas que vão nos livrar dos velhos tempos ruins? Realmente é o caso do libertador pior que o suposto opressor.
BEANE: Sim, realmente é. Vou te mostrar uma ironia feliz, Tom, e penso que você gostará. Frequentei uma escola secundária jesuíta, e foi meio que naquela transição pós Vaticano II. Era final dos anos 1970, início dos anos 1980. Aprendi a escrever com os jesuítas, portanto, ironicamente, eles me deram as ferramentas que precisava para escrever aquela carta para a Loyola University que você gostou tanto.
WOODS: Tá, bem, acho creio que podem ser um pouquinho desculpados por educarem Voltaire.
BEANE: (risos) Certo, certo. Não, mas você está certo quanto a isso e não é uma coisa católica apenas. Vemos isso no luteranismo, que como falamos antes, foi fraturado ao longo do tempo, de uma ala mais tradicionalista e uma ala de mais acomodação política. Vemos isso ao longo de todo o cristianismo, mas, por cento, na Igreja católica. O catolicismo romano, é claro, é o maior ramo da igreja cristã e, o que acontece em Roma afeta todo mundo. Assim, alguma das coisas que o Papa tem dito, sei que foram extremamente frustrantes para os católicos tradicionais e para nós também, para os luteranos. Digo, admiramos o Papa Bento XVI. É um grande teólogo, um grande escritor, mas o Papa atual é apenas – talvez, um pouco, para ser caridoso, um tanto disso perde sentido, mas parece que toda vez –
WOODS: Não, não. Isso é muito caridoso. Aprecio o esforço, mas é mal orientado.
BEANE: Sabe, toda vez que ele diz alguma coisa, todos os comentaristas aparecem e têm de reinterpretar o que ele diz. Se você quiser rir um pouco, Tom, você pode querem colocar o link na tua página, Tom. Há um pastor luterano chamado Hans Fiene que tem um site com esse tipo de sarcasmo luterano. Vou te mandar o link ou você mesmo pode encontrar no Google. Mas ele tem esse esquete chamado “Frank, o papa hippie”, e é bem engraçado. Não diria que é blasfemo. Muitos católicos tradicionais riram disso. Então, você deve conferir, se achar que vale a pena, vai querer colocar o link aqui. Mas, isso resume quantas vezes o Papa diz algo que é politicamente correto, mas contrário à doutrina católica e, então, os comentaristas têm de vir atrás do fato e do tipo da mensagem e tentam fazer uma limonada com esses limões. É muito triste e é confuso, o mundo precisa agora, o mundo precisa de uma profissão de fé e de uma liderança fortes. Não precisamos dessas águas turvas. É uma época crucial, creio, na história da nossa civilização. E, também, sinto-me honrado em ver homens como Anthony Esolen, homens como você, que são católicos, e outros grandes líderes do outro lado da fronteira, no protestantismo e na Igreja Ortodoxa, trabalhando juntos para promover nossas verdades cristãs e defendendo as liberdades cristãs – e todas as liberdades das pessoas. Por isso quero dizer, as liberdades religiosas são todas liberdades, e essas coisas estão sendo atacadas pelo Estado, e acho que muitas pessoas estão começando a acordar para isso.
WOODS: Com certeza vou colocar o link do TomWoods.com/767 , um dos episódio antigos – fiz alguns programas sobre a economia do Papa Francisco algumas vezes, mas fiz um programa bônus, porque não estava realmente relacionado ao libertarianismo per se, mas muitas pessoas pediram por isso e o fiz com Roger McCaffrey, que é um veterano nos círculos católicos tradicionais. E achei isso bem aterrorizante e não, não acho que esse cara possa ser explicado. Realmente é uma situação horrível, horrível. E acho, sabe, você conversa com pessoas que tem de explicar essas afirmações malucas e o que digo é, sabe, quem quer que esteja no L’Osservatore Romano, na imprensa oficial do Vaticano, manipula as palavras para que pareçam razoáveis, por que nós não cortamos os intermediários e tornamos esse cara papa? Não nos pouparíamos muitos problemas? Façamos esse cara papa. E, realmente, sem dúvida, algumas pessoas votaram em Jorge Mario Bergoglio porque pensavam: “ok, bem, ouvi dizer que ele é a favor dos pobres e gosto disso”, agora, olham para trás e dizem: “Que raios, o que fiz!”
BEANE: Sim.
WOODS: E está prestes a acrescentar: “Ah, talvez quase duas dúzias de cardeais eleitores, e todos serão – e, mais uma vez, ele apresenta-se como “sou o papa humilde e amo todo mundo, diferente de todos os meus antecessores. Sou humilde e amo todo mundo”. Mas, se João Paulo II tivesse governado a Igreja do modo como Francisco faz, nunca teria existido um Francisco. Francisco é de uma conformidade ideológica absoluta, acima da média e vai te humilhar e te rebaixar se você dele discordar. Por outro lado, Francisco, parece que chegou a um acordo com a sociedade São Pio X, altamente tradicionalista, de reintegrá-los na Igreja, o que é uma espécie de negociação tipo a que Nixon fez com a China. Ninguém esperava que ele fizesse isso e, ainda assim, ele é o único que poderia ter feito. Portanto, é uma personagem muito, muito estranha. Agora, acho que saí um pouco do assunto. Temos de conversar mais vezes, pois existem um monte de coisas que podemos conversar e gostei muito de falar ao telefone contigo, mas acho que nossas conversas telefônicas dariam bons programas, então, cortemos o intermediário telefone e tornemos essas conversas em programas.
BEANE: Parece uma boa ideia!
WOODS: Então, fale para as pessoas sobre o seu blog e como elas podem encontrá-lo
BEANE: Bem, tenho um blog, é no Bolgspot. Chama-se Father Hollywood. Existe uma história do porquê se chamar assim, mas, basicamente, uso como arquivo dos meus sermõs; publico os sermões lá. É claro que estou atrasado nas postagens porque ando atarefado, mas tenho alguma coisa política e alguma coisa libertária. Publiquei no Lew Rockwell, creio, umas doze ou treze vezes, assim, se vocês procurarem no LewRockwell.com e colocarem meu nome lá, poderão ler umas coisas mais pertinentes ao libertarianismo, à economia e, por vezes, com vínculos com o cristianismo. As pessoas podem ler essas coisas lá. Na maioria das vezes, creio que sou muito preguiçoso. Uso o Facebook para lançar as ideias, provavelmente não deveria fazer isso. Provavelmente deveria reviver meu blog, talvez me anime para fazer isso agora.
WOODS: É isso – embora seja tentador usar o Facebook por que parece que você ganha mais engajamento, é algo menos permanente, portanto, essa é a parte complicada.
BEANE: É verdade. Verdade total.
WOODS: Bem, de qualquer modo, é claro, gostaria de ver qualquer conteúdo teu, independente de onde apareça e estou feliz de ter agora um programa contigo. Mas, estamos patinando na superfície de uma coisa muito grande, então, espero que você concorde em voltar no futuro e obrigado por conversar comigo hoje.
BEANE: Obrigado Tom, e, nem te conto que grande honra não foi estar aqui e, por favor, continue essa grande obra. Você está fazendo a obra do Senhor e é uma voz importante em favor da dignidade e liberdade humanas. Sinto-me muito honrado de estar no programa.
WOODS: Muito obrigado.
Este artigo é uma transcrição do episódio 767 de The Tom Woods Show.
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