C A R R E G A N D O . . .

Instituto Libertário Cristão

Dr. Norman Horn 

Norman Horn escreveu este artigo para o Washington Post em dezembro de 2011, que se transformou num dos textos mais lidos da literatura libertária cristã.

Os cristãos da política norte-americana argumentam há anos que Deus apoia a pauta política de republicanos ou democratas, mas será que há uma terceira forma de pensar a relação entre Deus e o governo? 

Os cristãos de esquerda e de direita estão recorrendo cada vez mais ao libertarianismo não porque ele seja um “meio-termo”, e sim porque é uma forma completamente diferente de pensar o governo e o poder. 

A essência do libertarianismo é o princípio da não-agressão: o uso da força contra pessoas e propriedades é imoral e, em certos aspectos, uma consequência política da ética da reciprocidade. Assim, libertários cristãos acham que o poder do governo deveria ser limitado, que a moeda com lastro e o livre mercado deveriam voltar, que as guerras deveriam cessar e que as liberdades civis devem ser preservadas. Apesar de objeções levantadas por outros cristãos, muitos libertários cristãos encontraram um amigo no deputado pelo Texas, candidato à Presidência e cristão Ron Paul porque ele também acredita nesses princípios. 

O libertarianismo trata o caráter pecador do homem de uma forma realista. James Madison disse que, se homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Os libertários cristãos vão além, dizendo que é justamente porque os homens não são anjos que o governo deve ter poderes extremamente limitados. Deus não demonstra favoritismo nem tampouco concede privilégios de acordo com o cargo. Todos são responsáveis da mesma forma perante a lei moral. Quando o governo e os políticos ampliam seu poder de modo a reduzir impunemente o direito natural das pessoas, eles atravessam o limite da moralidade. A mensagem do deputado Paul é a de que o governo dos Estados Unidos ultrapassa esse limite há décadas e a solução é seguir a Constituição. Os Pais Fundadores foram historicamente ousados ao tentarem limitar o poder do Estado, mas presidentes e legislaturas, tanto republicanos quanto democratas, têm se recusado repetidamente a cumprir as próprias regras. A verdade é que uma mudança duradoura só pode ser encontrada na redução do poder do governo federal. 

Os libertários falam muito de economia, e com todo o direito. O dinheiro é algo fundamental para uma economia saudável. Os cristãos também se preocupam com dinheiro; na verdade, Deus fala bastante sobre isso na Bíblia. A advertência divina contra “pesos e medidas” injustas contidas em Levítico 19 é uma alerta contra a intervenção no ecossistema do dinheiro e do comércio. O deputado Paul reconhece a preocupação bíblica com a honestidade do dinheiro também em seu livro O Fim do Fed: “A Bíblia é clara quando diz que alterar a qualidade do dinheiro é um ato imoral. (…) A desonestidade monetária tem sido uma importante fonte de maldade ao longo da história”. Se o amor pelo dinheiro é a raiz de todos os males, como está em 1 Timóteo 6:10, com que seriedade devemos encarar a forma como nossa sociedade controla a oferta de dinheiro? Se é verdade, como muitos libertários defendem, que o Federal Reserve é a principal causa da crise econômica pela qual estamos passando, então a única solução é restaurar a moeda honesta e com lastro, isenta de maquinações políticas e interesses. 

É uma pena que as igrejas norte-americanas modernas acreditem que a forma estatal de “disseminar a democracia” por meio da guerra seja mais importante do que a disseminação da mensagem pacífica do Evangelho. Jesus veio para “trazer paz à Terra e aos homens de boa vontade”, e, por consequência, o objetivo cristão deve ser o mesmo. O deputado Paul escreveu em Liberty Defined: “É exagero e uma distorção usar o cristianismo de forma a justificar a agressão e a violência”. A guerra mata os inocentes, destrói propriedades e leva nações à falência. Os libertários cristãos acreditam que uma política externa não-intervencionista baseada na paz, no comércio e na amizade honesta é mais consistente com a forma como Deus espera que interajamos com nossos vizinhos. 

Os libertários acreditam que todos devem ser livres para fazer o que querem, desde que não infrinjam os direitos alheios. Os cristãos percebem a importância desse princípio apenas por meio da observação da história, reconhecendo a frequência com que outros cristãos são impedidos de praticar sua religião de acordo com sua consciência. Se não estamos dispostos a dar aos outros a liberdade de viverem como querem, como podemos esperar ter a mesma liberdade de fazer o que queremos? O deputado Paul explica que o governo não torna as pessoas boas em The Revolution: “A lei não pode tornar uma pessoa má em uma pessoa virtuosa (…). Somente a Graça de Deus é capaz disso”. Deus nos criou livres para levarmos a cabo o que manda nossa consciência. Não podemos continuar exigindo controle estatal para restringir as atividades das pessoas e ainda assim acreditar que nossa liberdade está segura. 

Graças ao libertarianismo, muitos cristãos encontraram uma forma de superar suas crenças políticas e aceitar uma filosofia política mais consistente e bíblica. A mensagem da abolição do poder governamental tem força própria. Em Ron Paul, muitos libertários cristãos veem um líder que aponta para os princípios que muitos conservadores e liberais há muito esqueceram: “Um sistema de governo sem limites, se não for controlado, destruirá a produção e empobrecerá a nação. A única resposta é entender melhor a economia e os sistemas monetários, bem como as políticas sociais e externas, com a esperança de que elas mudem quando ficar claro que as políticas governamentais são uma ameaça para todos nós.” O libertarianismo não vai desaparecer e certamente ocupará um lugar cada vez mais proeminente na discussão política dos cristãos nos próximos anos. 

*Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Christian Institute.


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